Acidulante

corroendo a monotonia
Quem era Eduardo?

Na última quinta-feira, a Polícia Militar assassinou um menino de 10 anos de idade.

Ele vestia um calção azul e estava sem camisa. Seu nome era Eduardo de Jesus Ferreira. Segundo seu pai, o policial atirou nele de uma distância de 10 metros, supostamente por assumir que o celular nas mãos do menino fosse uma arma. Me pergunto como se confunde um celular com uma arma a 10 metros de distância. Mas isso não vem ao caso.

A versão da polícia é que Eduardo foi atingido por uma bala perdida. É impressionante a mira das balas perdidas da polícia. Sempre acertam a cabeça. (Isso não se aplica em bairros nobres).

Não sabemos quem era Eduardo. Não sabemos quem eram seus amigos, suas brincadeiras favoritas, sua matéria preferida na escola, o que ele queria ser quando crescesse. Eduardo é só mais um nome na mídia, uma manchete de segunda classe abaixo do nome daqueles com quem nos importamos de verdade.

Eduardo era pardo, pobre e favelado, e existe um padrão quase que inevitável após a morte injusta de pessoas como ele— a calúnia. A campanha de difamação.

No ano passado, durante o caso do assassinato do dançarino Douglas Rafael Pereira, mais conhecido como “DG”, circulou-se uma imagem de um rapaz com um fuzil na mão, afirmando-se que seria ele o DG — o que logo foi provado falso. De forma semelhante, atualmente estão circulando uma imagem de um menino armado e afirmando que seria este o Eduardo.

Este padrão não é nem mesmo exclusivo ao Brasil — Em Novembro de 2014, Tamir Rice, um menino negro de 12 anos de idade, foi alvejado pela polícia da cidade de Cleveland, nos EUA, por estar carregando uma arma de Airsoft (armas de brinquedo que atiram pequenos projéteis usando ar comprimido). A polícia atirou em Rice segundos após chegar à cena.

O que se seguiu foi uma demonização midiática semelhante ao caso de Eduardo, objetivando transformar Tamir de uma criança de 12 anos em um indivíduo perigoso e fora de controle. Tudo por estar carregando uma arma de brinquedo. Essa demonização culminou em um pronunciamento da polícia de Cleveland em que foi declarado que Tamir Rice era responsável pela própria morte.

Não sabemos quem era Eduardo. E agora nunca saberemos. Seu assassinato não apenas apagou a vida que poderia ter tido, mas também ameaça apagar seu passado, e o tornar um bode expiatório no qual a sociedade projetará seus medos e culpas para justificar as ações de uma polícia completamente despreparada para lidar com a realidade brasileira.

“Assim como eu matei o filho, eu posso matar a mãe.” Frase teria sido dita por um policial a Teresinha Maria de Jesus, mãe de Eduardo, 10, morto com um tiro de fuzil no Morro do Alemão #RJ http://bit.ly/1DF9Q0V

Posted by UOL Notícias on Segunda, 6 de abril de 2015

Como complemento a esse tema, vou deixar aqui esse episódio do podcast mamilos que aborda a violência policial:

Texto cedido por Pedro Castilho (Colaborador do Acidulante)
Fonte: Medium

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